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quinta-feira, 7 de março de 2013

Ensino de Gramática: Língua Real ou Língua Idealizada


Desde a barriga da mãe a criança em gestação está em contato com os sons que estão ao seu redor, e o principal deles é a fala. Desde muito pequenos estamos ouvindo os sons das palavras de nosso idioma e ao nascermos essa exposição é ainda maior. É através da audição desses sons e logo em seguida através da reprodução de grunhidos, sons bilabiais que vamos preparando nosso aparelho fonador para articularmos os sons e reproduzirmos as palavras que compõe a nossa língua portuguesa. Todos estes processos de aquisição da fala através da percepção auditiva e reprodução de sons fora desde o início apreciado através de palavras e frases em contextos sociais de comunicação organizados através da gramática da língua portuguesa.
Podemos denominar de gramática internalizada um conjunto de regras de determinada língua que o falante nativo ou aquele que convive com falantes nativos desenvolve através da percepção/audição do idioma. Ao estar em contato desde cedo com a língua a criança aprende a se comunicar e a perceber a sequência e estrutura das palavras dentro de determinada oração. Neste processo a criança comete inúmeros erros, porém o aprendizado e o progresso é bastante rápido fazendo que com 4 a 5 anos de idade a criança seja um falante fluente do seu idioma.
No processo de alfabetização e letramento a criança em idade escolar começa a ter contato com muita frequência com os textos escritos. Ela já domina a fala, porém nesse novo estágio irá aprender os caminhos para a escrita. No ensino fundamental II, os professores de língua portuguesa possuem em seus planos de ensino, que muitas vezes são propostas vindas do Estado, conteúdos de gramática para fazer com que seus alunos aprendam a escrever e a falar de acordo com a norma culta da língua. Como podemos perceber pelas pesquisas atuais neste campo, para formarmos bons produtores de textos a criança deve estar exposta à leitura, e a aquisição da norma culta é feita a partir da reflexão da língua. Essa reflexão é dada a partir dos conhecimentos linguísticos que os alunos já possuem em suas experiências como nativos de língua portuguesa. Mesmo o foco sendo a norma culta é imprescindível que não descartamos a língua popular que a criança utiliza em seu cotidiano.
Tendo em vista este conceito, a autora do livro “Por uma vida melhor”, Heloísa Ramos fora muito criticada pela imprensa por inúmeros jornalistas, colunistas e até mesmo professores sobre seu livro didático que fora aprovado pelo MEC para distribuição nas escolas públicas do país. Heloísa, propõe em um dos capítulos do livro uma reflexão dirigida sobre alguns aspectos gramaticais da linguagem popular, mas não com a intenção de fazer o aluno escrever errado. A frase que chamou a atenção e causou um estardalhaço da imprensa foi a seguinte “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”, porém a mídia divulgou a frase aleatoriamente, fora do contexto presente no capítulo do livro, onde a autora não recrimina esta forma de fala e deixa explícito que ela é popular e que foge da norma padrão da língua portuguesa. Heloísa deixa claro também em seu livro didático que a pessoa deve saber os locais certos para se expressar dessa forma, pois se for a uma situação em que exija a norma culta ela poderá sofrer preconceito linguístico. Acredito que todo este estardalhaço fora desnecessário já que a frase fora descontextualizada do capítulo do livro didático.
A partir deste exemplo podemos observar o quão a gramática internalizada é importante para o sujeito na hora de aprender a língua escrita e falada em sua norma culta. A partir do conhecimento que ela já possui é possível estabelecer uma reflexão e alcançar a compreensão sobre determinadas regras de gramática que são impostas pela NGB. Não basta abrir o livro de gramática em sala de aula e despejar sobre os alunos conceitos que muitas vezes são contraditórios. É importante não ignorar e aproveitar esta bagagem de conhecimento linguístico, dotado de sentidos e diversificações que os alunos trazem para a sala de aula. A língua está em constante evolução, pois é viva e quem cria e modifica a própria língua somos nós mesmo, falantes do português.

Jefferson Carvalho 

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